Mais uma Festa.
Já houve muitas. Aquela que alguém como eu não se pode recordar, a das Indústrias («era tanta gente que eu tinha que andar com ela sempre às cavalitas, se não ela não parava de chorar», contava ontem a minha mãe); outras que pelos mesmos motivos não me trazem recordações nenhumas; a da terra barrenta onde lá de cima se podia ver a enchente de gente a chegar na sexta-feira, qual marabunta a tomar conta de todo o recinto; a dos três anos, e esta.
Houve Festas com o Primo Pedro, a Catarina do Bigodes, a Lili Prima, a Tina, a Sónia de Vila Franca, a Prima Ana, o Nuno, o Rui, o outro Nuno, a Cati, o Miguel, o Fernando, o Daniel, o João, a Alice. Até chegou a haver Festa para a Avó Joana e para a Tia Alcide.
Houve Festas com cantores brasileiros («Aquele é palhaço, não é pai?»); com rifas; com pinturas nas caras dos miúdos; com cães campeões a serem passeados só por nós; com últimas noites a serem dormidas entre prateleiras ao lado de abóboras; com "Dancing Fly" (ridículas, Ana, ridículas...); com Trovante e lasers; com curtes que deram em namoros; com três dias a saltar em frente ao 25 de Abril (e depois não conseguir descer escadas na segunda-feira seguinte); com calções curtíssimos e túnicas estrambólicas; com horas a andar até ao carro; com animações de palco, espectáculos e maiores ou menores exibições de tango (como esta); com roubos e gás lacrimogéneo (nunca mais!); com lágrimas e abraços no Abrunhosa; com vozes afónicas no fim; com tesouros de bijuteria comprados a custo; com direito a ralhetes e a «amanhã não vêm»; com fado e bailaricos já depois do encerramento; com sestas; com chuvinha, chuva, chuvada, e até uma tarde debaixo de uma mesa com livros por causa da chuva; com dinheiro perdido nas caixas; com Carvalhesa; com início de gozo muito tempo antes e tristeza no acabar do fim.
Já houve muitas Festas e eu fui a todas, mesmo que numa só por quatro horas, num intervalo de mamadas.
Para quem nunca foi, a Festa é intransmissível e muito, muito pessoal. Para quem já foi, é um local social, pleno de liberdade onde se pode sentir, ser e fazer o que apetecer. O único que já conheci em que «podes ser quem quiseres, ninguém te leva a mal... toda a gente trata a gente toda por igual»...
Nos últimos anos houve, há e continuarão a haver Festas, com filhos e mesmo com chegadas mais tardias, interrupções para aniversários de afilhados, faltas a dias por causa dos exames e depois por causa dos empregos, partidas antecipadas, almoços e convívios mais prolongados. Muitas mais.
Porque, de facto, não há - e duvido que alguma vez na minha vida venha a haver - Festa como esta.
Rita