Era um saco trazido de casa dos meus pais já há uns meses largos; o conteúdo da arca de madeira que em tempos o meu Avô tinha feito para a minha irmã, como tantas outras de variados tamanhos espalhadas pelas várias casas da família paterna. No ano passado o meu pai retirou tudo do seu interior e devolveu a arca à sua legítima dona. Para mim veio o grande saco de plástico cheio de papeladas.
Hoje, tanto tempo volvido com o saco enfiado primeiro no antigo escritório (que há um ano passou a ser o quarto do Vasco), depois dentro da arrecadação e finalmente num canto da sala, decidi-me a arrumá-lo. Faz parte das decisões pós-férias grandes, arrumar as coisas aparentemente sem solução que se amontam por qualquer canto desta casa.
Correspondências a lembrar-me de dramas entre amigas, recortes de bds e de artigos de jornal, antigos estojos com pequenas preciosidades irrelevantes, muitos desenhos de presente da irmã mais velha, agendas com moradas, o relato altamente sucinto de uma importante viagem de um mês de há praticamente trinta anos atrás... e escritos... muitos escritos meus, de brincadeiras entre colegas, de trabalhos da escola, de projetos de teatro ou só do interior de mim mesma, pelo prazer de escrever...
Leio-os e reconheço muitos, recordo até o envolvimento sentimental e a animação com que me entregava a eles, às vezes até o local ou a fase em que estava... De outros não tenho a mínima noção...
Gosto de me rever ali e tranquiliza-me descobrir outras pequenas coisas importantes, como um artigo do Diário de Notícias de Fevereiro de 1992, que me mostra que crianças abandonadas e institucionalizadas já era um assunto que me interessava e que, por isso, eu não sou uma pessoa longe do ponto de onde parti...
Rita
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