Há dois anos inscrevemo-la num campo de férias, mas ainda não tinha completado os oito anos e acabou por não poder ir. No ano passado foi, segura, com uma grande amiga, e voltou delirante, cheia de rituais, cantorias, aventuras.
Este ano, como os avós já não têm tanta disponibilidade e não há licenças de maternidade a serem gozadas, propusemos o acampamento para onde eu e a tia íamos em miúdas (e até adolescentes), versão moderna obviamente. A ideia era monetariamente acessível e eu estava confiante de que ela ia gostar. Único senão: ir sozinha.
Aderiu. Confessou por duas vezes à tia que não lhe apetecia ir, mas cá em casa nunca o admitiu. E, na altura do pagamento, numa última conversa sobre vantagens e desvantagens, nem pareceu hesitar (pelo menos diante de um olhar menos atento).
Hoje, no meio daquilo que lhe há-de ter parecido uma pequena multidão a confirmar o seu nome da lista, encostou-se a mim e disse de repente: «Mãe, não quero ir...». Mas logo a seguir, com a chegada de um colega da sala do irmão, a insegurança pareceu atenuar-se, despediu-se, entrou para o autocarro sozinha, escolheu uma cadeira. O outro ficou depois ao seu lado e percebi-os a conversar animadamente, mesmo com os anos de diferença.
Ela não sabe, mas admirei-lhe a decisão. Percebi naquele momento como sempre tinha sido fácil para mim, pelo menos tendo uma irmã presente, e como pode ser diferente abrir caminho sozinha.
Ficámos, nós cá de fora, só a ver-lhe a silhueta na sombra do autocarro, a trocar acenos e beijos enviados pelo éter. E agora, fico sozinha por aqui, a pensar-lhe nos pensamentos e a repetir-se-me o orgulho de, mesmo insegura e de coração a bater descompassado (senti-o nos abraços), vê-la a caminhar no interior do autocarro, à procura do seu lugar. O de sentar... e o outro.
Rita
Sem comentários:
Enviar um comentário