A Joana fez-se a si mesma (e à imensa audiência que a net constitui) esta pergunta ontem. E como isto dos blogs tem a vantagem de distribuir e alargar discussões, resolvi fazer o meu comentário cá, e não lá. Então cá vai:
Isto é tão difícil, quase até de ter opinião...
Eu gostei muito de andar na escola, e foi sempre a pública. A escola representou para mim um local de aprendizagem onde eu sentia pertencer e onde encontrei muitas e muitas vezes a felicidade. Nem sempre me apetecia lá estar, mas a vida é mesmo assim, nem sempre hoje me apetece estar também no meu trabalho, na minha casa, até na minha pele...
Há turmas que me acompanharão para a vida, como a do 9º, a do 10º e do 11º e a do 12º, mas, nas que me marcaram menos em termos de conjunto, há muitos colegas que nunca esquecerei. Os espaços físicos também ficarão para sempre e acho que sempre me serviram... até bem...
Os professores... não me lembro de muitos deles, mas tenho a sorte de poder recordar uns quantos pelas suas memoráveis capacidades e outros pelas particularidades que tantas vezes nos fizeram rir. Tenho muito a agradecer ao prof. Vargas, que com o seu profissionalismo e competência, conseguiu sempre manter a minha turma de vandâlos do 7º ano (metade do grupo eram repetentes e expulsos de outras escolas e havia só sete raparigas) interessada na matéria de História e no que ele tinha para dizer; à minha prof. de Português do 9º ano, a quem devo saber as preposições de cor até hoje e uma representação adaptada do "Auto da Barca do Inferno" espectacular e moderna; à prof. Domingas de Português do 10º e 11º, tão sensata e espectacular, querida mas firme; ao Luís Filipe, que para além que ser um professor de História extraordinário, ainda chegou a emprestar-me dinheiro para comprar croissants de chocolate ou a dispensar uma aula para falar connosco sobre cinema (e sobre vinhos, eheheh) e que depois me acompanhou durante anos a fazer teatro e com quem conquistei o direito (dado por ele) de retirar o epíteto de professor quando conversávamos; à prof. Isabel de Inglês do 12º, grande máquina; o prof. Coter, de Filosofia, um grande maluco e um grande professor...
Recordo de outros, com carinho, embora algumas feições se esfumem: a prof. de Geografia que dizia "coitadinhax dax crianxinhas"; a prof. de Francês do 10º; a prof. de Química do 9º ano com quem me esforcei tanto para que me valorizasse como aluna (numa disciplina onde eu queria era brincadeira); uma das profs. de Inglês, meia indiana, toda preciosista com a pronúncia; o prof. jeitoso de Educação Física do 6º... sei lá, foram tantos e tantos... e também houve os que, claro, recordo porque não tinham mão em nós, como o de Matemática durante dois anos... ou por outras questões, como a de Filosofia do 12º, que fez questão de me diminuir e achar que a nota que eu tinha obtido na Prova de Aferição tinha sido adequada a mim (e depois recorri e vim a subir 12 valores!)...
E pronto, não vou falar da prof. da primária porque muito mais coisas me unem a ela que só o facto de me ter dado aulas... e não vou falar dos da faculdade porque me recordo de quase todos e porque a minha crítica vai para outras vertentes que não o seu profissionalismo académico...
A escola nunca foi perfeita... tivemos aulas num pavilhão a cair de podre, onde quase chovia... o chão do campo de jogos abateu uma vez por causa de um lençol de água... houve alturas com faltas de professores... mas acho que correu bem e posso dizer que se calhar tive sorte, sentia-me bem lá dentro, valorizada, bem avaliada (quase sempre)... importante na minha individualidade.
Gostava mesmo que a minha filha se sentisse sempre assim, lá na escola ou escolas que irá frequentar.
Mas, e para finalizar, continuo a achar que, para se fazer um bom trabalho - lá, na escola - é preciso gostar, ter prazer... Todos os dias há professores e funcionários que fazem um trabalho bem feito, mesmo sendo mal pagos, mesmo com má condições... mas não se pode querer que as pessoas gostem sempre do que estão a fazer se o fizerem em situações pouco dignas, não é?! Se não se sentirem motivados, valorizados, respeitados, qualquer prazer se perde... quando estão preocupados com o dinheiro que não chegará ao fim do mês... com a falta de colocação ou a colocação longínqua e a filha de dois anos longe (esta é para ti, minha querida prima), ou com a forma como serão avaliados pelos pais dos seus alunos - os mesmos pais que ajudam a educar os filhos para não respeitarem a escola e os seus profissionais e o próprio conhecimento e formação que daí é suposto retirar... como se pode ter prazer?! Sei lá, penso que o que falta em muitos casos, é o prazer, é querer ser professor, mas também é gostar de lá estar, é sentir-se valorizado e bem tratado (pelos alunos, pelos colegas, pelos pais)... pronto, sei lá, é isto o que eu acho, mais ou menos, claro que haveria mais para dizer. E vocês? Digam qualquer coisa, vá lá, enfrentem e discutam este assunto... que escola queremos nós, o que é "ela"?
Rita