Aqui onde me têm, sempre fui mocinha de letras e não de números.
A antipatia ou falta de empatia com os ditos terá começado cedo; a minha mãe e irmã costumam contar (e eu lembro-me) das cópias que eu fazia das lombadas dos livros ou das palavras existentes em outros locais («Mãe, eu sei o que está escrito aqui no saco. É "pão".»). Ninguém refere que eu copiava números.
Costumo dizer, por piada, que os números que mais tarde eu vim a gostar e pelos quais vim a demonstrar alguma competência foi pelos romanos. Letras, portanto.
Ainda hoje reconheço em mim - com alguma pena, confesso - a falta de compreensão para esse mundo que é a matemática, talvez devido à quantidade de anos em que erradamente acreditei, como tantos outros, que não me iria fazer falta.
A Alice frequenta um estabelecimento de ensino onde se pratica o Movimento da Escola Moderna. Sinto-me desperta para a temática e envaideço a outros o pouco que ainda sei do método. Quando tento explicar que a aprendizagem se centra no aluno, que as crianças escolhem o que querem aprender, isso esbarra na ideia que a maioria das pessoas tem do ensino, ideia essa vinculada àquela que foi a sua própria maneira de ser ensinada. Até há pouco tempo eu própria não conseguia perceber por exemplo, como seria feito o ensino da matemática.
Tenho estudado o MEM e descobri hoje um texto fascinante. Fala dos conceitos matemáticos que são aprendidos "naturalmente" como tendo sido «(...) pensados ao mais pequeno pormenor, desde a forma à colocação ao alcance das crianças, têm uma intencionalidade educativa muito forte, portanto não são tão naturais quanto isso. A apropriação que as crianças fazem deles é que é feita de uma forma natural.» Para todos os que duvidam quase intrinsecamente da matemática, linko o texto na perspectiva que, como eu, despertem para um mundo onde esta vai além do fazer contas, resolver problemas ou aprender fracções... um mundo onde é possível a uma criança entre os 03 e os 06 anos aprender a ter prazer a aprender matemática.
A minha esperança no ensino da matemática renasce. Acredito que, embora a propensão genética para o oposto, a minha filha poderá criar um vínculo com uma linguagem que infelizmente nunca foi minha. Talvez um dia até me possa vir a ensina-la.
Rita
Verifico agora que não consigo afinal fazer o link. Para os interessados, consultem, no site do MEM (esse sim, aqui linkado), o título Textos de Referência (do lado esquerdo), aí a parte referente aos Relatos de Práticas no Ensino Pré-Escolar e, por fim, o texto "A Matemática no Jardim de Infância". O texto é curto e vale a pena, a sério.