Quando o pediatra do Hospital da Estefânia me perguntou ao que ia, expliquei que durante a última noite nos havíamos apercebido que ela estaria quente, com febre, mas que não a tínhamos medicado logo.
De imediato me interrompeu, expressão levemente zangada (como quem acha que está diante de uma louca anti-vacinas): «Mas não a medicou logo porquê?!».
Confesso que gaguejei. Passou-me pela cabeça explicar o que tinha lido no livro do seu colega Mário Cordeiro ["A febre não é uma doença, é um sinal. A ansiedade, o desejo do médico de aplicar a terapêutica antipirética fazem com que, muitas vezes, se hipermedique a febre, apesar dos crescentes conhecimentos da sua fisiopatologia sugerirem que esta atitude, além de comportar riscos, é, em muitos casos, desnecessária e ineficaz.", entre outras passagens] mas ocorreu-me a ideia que tenho dos médicos como de uma classe que parece gostar pouco dos doentes auto-diagnosticados ou que activamente participem no estudo do seu problema de saúde, pesquisando e sugerindo. Acabou por me surgir o segundo motivo para não medicar de imediato um filho com febre: «Não quis que mascarasse outros sintomas…».
Fui interrompida. Que não mascarava nada, nada, eu que não me preocupasse e que era preferível medicar.
A verdade é que, como pessoa informada e inteligente que me sinto, não concordo. Aliás, tanto não concordo que a ida ao hospital se deveu precisamente à observação que fiz da Joana enquanto ela não estava medicada: a mão a mexer na orelha, um dedo enfiado no orifício que ao ouvido dá acesso, o gesto repetido pela manhã, mesmo no decorrer da sua boa disposição geral e normal atividade. Questiono-me se, sob o efeito do Benuron, ela teria demonstrado o seu desconforto e se me teria passado pela cabeça que pudesse ser otite. Acho que não; pelo menos é o que me dita a recordação das minhas próprias dores de ouvidos na infância, o desejo da atuação rápida do paracetamol para me aliviar.
Por outro lado, ocorre-me explicar que, desde que descobri que a febre era uma reação defensiva do organismo a um agente infeccioso, não medico logo, pelo menos enquanto a febre não chegar aos 38o e pouco e/ou se não houver outra queixa ou desconforto na criança.
Depois da Joana ficar boa, fiz umas pesquisas e encontrei este documento, da Unidade de Saúde Familiar de Valongo, que me pareceu verdadeiramente esclarecedor e que aconselho todos os que têm crianças a seu cargo a ler: http://www.usfvalongo.com/ documentos/edu/guia_febre.pdf. Achei extraordinário.
Xô Tôr, está decidido que da próxima vez podemos conversar um niquito melhor… posso levar o documento de Valongo imprimido dentro da mala... ou então o livrinho de 739 páginas do seu colega...
Rita
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