"- Eu vejo o que está atrás das coisas. Não posso ver a tua cara, mas sei que és bonita; não posso ver o teu aspecto, mas posso conhecer a tua alma. Nunca vi os teus códices, mas vi-os através das tuas palavras. Posso ver todas as coisas em que acredito. Posso ver a razão de estarmos aqui e para onde iremos quando deixarmos de brincar.
Malinalli começou a chorar em silêncio e a avó perguntou-lhe:
- Porque choras?
- Choro porque vejo que não precisas dos olhos para ver nem para ser feliz - respondeu-lhe - e choro porque te amo e não quero que partas.
Com ternura, a avó tomou-a nos braços e disse-lhe:
- Nunca me separarei de ti. Cada vez que vires uma ave a voar, aí estarei. Na forma destas árvores, aí estarei. Nas montanhas, nos vulcões, no milheiral, estarei eu. E, acima de tudo, cada vez que chover, estarei ao pé de ti. À chuva estaremos sempre juntas. E não te preocupes comigo, eu fiquei cega porque me aborrecia que as formas me confundissem e não permitissem ver a sua essência. Eu fiquei cega para regressar à verdade. Foi uma decisão minha e estou feliz por ver o que agora vejo."
in "Malinche", de Laura Esquivel
Rita
3 comentários:
Muito enternecedor esse bocadinho de texto...pena a maioria das avos nao serem assim sabias...veem as formas a dobrar e pessoas a tridimensao.
Lembrei-me da minha entretanto,e expeculo sobre a avo memoria que serei um dia...hum
Lembraste-te... eu também.
Dois anos sem a nossa avó Joaninha...
Ana Cristina
também tenho muitas saudades da minha avó! Que texto bonito, revejo-me um bocadinho nele, porque muitas vezes dou por mim a pensar que a minha avó está comigo, a olhar por mim, quiça muitas vezes a proteger-me e orientar...
bj.
D
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