A minha mãe trouxe-me no outro dia dois vestidos para a Alice. Vestidos usados por mim, feitos para mim pela minha Avó Joana.
Apesar da minha mãe detestar costurar, terei sempre boas recordações da máquina Singer que ela ainda tem na varanda. Era lá que a minha Avó se sentava, dias a fio a fazer-nos coisas, quando vinha de férias para a nossa casa. Eram as bainhas, os arranjos, mas também as roupas para nós e os vestidos para as nossas bonecas.
Não me lembro bem, mas imagino que cada corte de tecido desse para fazer várias peças. A minha mãe tinha um vestido do tecido desse que aparece aí na fotografia do lado esquerdo, vestido esse que já usámos muitas vezes no Carnaval mas que agora, só de pensar nele, me dá vontade de vestir este Verão. Chamo-lhe "o vestido limão" porque é isso que as cores me fazem lembrar, um limão desses com a casca ainda meio verde, bem ácidos, como os do limoeiro sem nome do nosso páteo. Por sua vez, a minha irmã teve um vestido lindo, do mesmo tecido e com um modelo bem semelhante ao do lado direito da imagem, que eu vim a herdar mais tarde e a usar também durante muitos anos.
Gosto muito destes vestidos e das lembranças que tenho dos outros, dos grandes. Sabia que a minha mãe os tinha guardados na arca, às minhas únicas roupas de recordação e eu ansiei muitos anos por ter uma filha a quem os vestir. A Alice fica linda com eles.
A minha sogra, que também é toda artista na costura, ainda a Alice não tinha nascido e já lhe tinha feito seis cueiros. O meu preferido sempre foi este do lado esquerdo, com as riscas vermelhas e uns ursinhos e coelhinhos que parecem vestidos de marinheiros. E há outros de modelo igual, semelhantes a uns bibinhos, de quadradinhos azuis e amarelos. Alguns têm uns mimos bordados pela Bisavó. São todos muito bonitos e enormes e não me habituo à ideia que eram para ser usados a tapar-lhes as perninhas no ano passado, quando ela era tão minorca. Para mim, parecem vestidinhos e têm muito mais piada quando vistos assim em pé, todos inteiros. Quando lhos visto agora, fico cheia de pena a vê-la a tentar desembaraçar-se a gatinhar com os pés a pisar o tecido... Quando ela andar, aí sim, vão-lhe ficar o máximo...
Fico muito contente quando penso que a Alice vai ter a mesma sorte que eu e a Cristina. Uma avó a coser para ela, e ela a chegar da escola a correr, toda ansiosa e entusiasmada só de pensar no vestidinho que lhe pediu para a Nancy e que a avó anda a fazer às escondidas, para o efeito final ser surpresa. Não haverá a varanda ou a Singer e com certeza não será uma Nancy, mas em todo o caso será a avó a coser, só para ela.
Rita
3 comentários:
hoje a caminho de casa vinha a falar como é bom ter avós e das saudades que tenho do meu avô. Chego a casa e nem mais!,deparo-me com este texto lindo!
São lindos... todos eles...
Que sorte ter uma avó assim...
Boa semana
Bjs
E os petisquinhos que só elas sabem fazer...?HHHUMMM! A Rita que o diga...os filetinhos da bó Irene...
Ana prima
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