Acho que foi na passada sexta-feira, só no dia em que fiz as 38 semanas de gravidez, que a Alice sentiu pela primeira vez o mano na minha barriga.
A paciência dela para esperar e experimentar estar a olhar não é muita... a vontade dele se exibir também me parece pouca... Enfim, nesse dia eu descansava na poltrona e ela andava à minha volta, conversa para aqui, festas para acolá, colinhos e mimos. Quando repousou a cabeça na minha barriga, levantou-a logo a seguir, olhos muito abertos. Disse-lhe que era o mano a mexer lá dentro. Ela pousou novamente a cabeça e levantou-a outra vez. Fascinada. Queria saber porquê e expliquei-lhe que o bebé estava todo enrolado lá dentro e que, como estava cada vez maior, o espaço era pouco, tinha a necessidade de, de vez em quando, esticar um braço ou uma perna...
A relação dela com este mano e com a minha barriga tem sido engraçada. Na quinta-feira teve cá uma amiga da mesma idade e a certa altura esta perguntou se podia tocar no meu bebé. Respondi-lhe que sim, mas a Alice não achou bem. Não queria, o mano era dela, a barriga também.
Tento explicar-lhe. Que o mano não é assim uma propriedade nossa. Que quando nascer vai ser do mundo. Que o mundo vai querer pegar-lhe e fazer-lhe festas e ajudar a tratar dele. Que nós temos de deixar. Que nós também não a podemos prender em casa, que ela também é do mundo e que o mundo também é dela. Ela parece perceber melhor essa comparação. Depois, quando ficar a pensar, segredo-lhe que não se preocupe, apesar de tudo ele vai ser sempre um bocadinho mais nosso do que do mundo...
Hoje, quando a fomos buscar, levantou-me a camisola e fez-me festas na barriga. («Nasce, mano!») Depois, deixou os colegas todos tocarem e eles, de olhos e sorrisos muito fascinados, fizeram quase uma fila. Se eu acreditasse, ficava na dúvida se era eu que abençoava ou que era abençoada.
Este grande mistério que é a vida.
Rita