Ana Cristina
domingo, dezembro 09, 2018
segunda-feira, novembro 26, 2018
Avó e neta
Estava a vestir um casaco de malha às riscas e a congratular-me por ainda lhe servir, quando a ouço:
- Não gosto deste casaco.
Fiquei surpreendida e fiz o que faço sempre, converso sobre o assunto, tentando convencê-la:
- Não gostas? A sério?! É tão lindo, tão colorido... Era do mano, sabes, foi a avó que lhe ofereceu quando ele era pequeno.
Instantaneamente, ela torna a vestir o que do casaco já começara a despir:
- Ah, então gosto.
Foi uma mudança tão rápida numa pessoinha tão tendencialmente assertiva (e oposicionista...!) nestas coisas, que eu até estranhei. Até que a ouço:
- Sabes porquê...? Porque eu gosto muito da avó, ela é muito querida...
Diga-se, para quem precisa, que quando ela nasceu, há quase cinco anos, já a avó estava doente. Enquanto bebé, sempre lhe pegou ao colo sentada, para que não se arriscasse mais uma queda inexplicável e de surpresa, naquela altura a serem cada vez mais habituais... Não me recordo de terem conversado muito as duas, porque a avó falava cada vez menos e mais baixo e as crianças pequenas não são conhecidas pela paciência... e é impossível que, com a idade que tem, ela se vá recordar de muito mais do que aquela avó, no Lar, que quase não se mexe, sem expressão, a quem ela dá um beijinho, faz umas festas na cara ou segura na mão. Ou aproveita o quarto e a cama para brincar e jogar, segundo as minhas tentativas de que a avó lhe vá apreendendo o feitio, o crescimento, desta forma tão básica que atualmente lhe é permitido... O célebre "melhor que nada"...
Fico enternecida com as palavras dela... agradável e ao mesmo tempo tristemente enternecida... mas sorrio de mim para comigo... não é um riso fácil e descontraído como daquela vez em que, no Lar, depois de aconchegarmos as almofadas e roupa de cama à volta da minha mãe, a vejo entrelaçar os dedos das mãos uns nos outros e dizer: «Oh, tão querida... Parece um animalzinho do bosque...!»... mas é, em todo o caso, um sorriso.
Rita
segunda-feira, novembro 19, 2018
Há lá coisa melhor do que elogios numa segunda-feira de manhã...
São 10H15 de segunda-feira e recebo um telefonema de trabalho, aqui no trabalho.
Ele quer saber da situação da sua ainda incipiente adolescente e eu explico-lhe.
Pergunta-me se há necessidade de me tornar a ligar e eu digo que o poderá fazer, se assim quiser, mas que à partida já sabe o que esperar.
E ele vai e diz que ligará antes do Natal, mesmo que seja para me desejar boas festas.
E desfaz-se em elogios, de entre os quais o que eu mais gostei: «A Rita acalma qualquer um.»
Eu. Logo eu, que na altura até ralhei com ele. Acalmo gente. Rio-me para dentro com a diferença do que podemos ser em diversas áreas da nossa vida.
E agradeceu muito. E eu sei, porque o ouvi mas também porque o senti, que foi mesmo real. Que, mesmo tendo em conta o meu aparecimento numa fase necessariamente desagradável de vida e acontecimentos, houve um espaço para sentir que eu tinha reduzido o que foi negativo...
Vim aqui só para não me esquecer que, não obstante o dia cinzento que se vê pela janela nas minhas costas, aqui dentro de mim, o dia está solarengo e anuncia uma boa semana. Com licença, vou então trabalhar com ganas.
Rita
domingo, novembro 11, 2018
Coisas que acontecem...
... quando se sai a correr, em cima da hora do cinema:
E sim, só reparei quando estava a sair do carro, já no centro comercial... E sim, fui mesmo assim.
Para salvaguarda de quem se possa estar a preocupar com a minha sanidade mental, devo acrescentar que o quarto em que me calcei estava às escuras.
Rita
segunda-feira, novembro 05, 2018
Que fixe nunca estar sozinho...
E disse ela, a de quatro, vestida de cuecas, camisola interior, meias antiderrapantes e gorro de Inverno na cabeça:
«-Mãe...... anda cá ver-me a dançar com estas duas miúdas...»
💗
Rita
terça-feira, outubro 30, 2018
E assim, de repente, sou um perigo para a sociedade
Porque este é o mês estranhei não ter recebido notícias da seguradora. São 27 anos a conduzir carro próprio e, naturalmente, os mesmos a desembolsar o que me garante a sua legalidade. Daí ter contactado a mediadora. Podia ter havido algum problema e a carta ter seguido para a morada antiga.
Recebi o telefonema há pouco, com a notícia que não me querem como segurada por ser um risco. Não me quer a seguradora que até agora tive, nem nenhuma outra. Estou na lista negra das seguradoras!!!
Motivo: tive 3 sinistros em menos de 5 anos.
Explicando melhor; nos últimos 5 anos fiz a seguradora gastar dinheiro. E não quer dizer nada ter seguro contra todos os riscos, ou ter feito gastar pouco dinheiro, ou ainda um deles nem sequer ter sido eu mas alguém que não se identificou, e sobretudo ninguém se ter magoado, nem o facto de durante 22 anos nunca ter tido nenhum acidente provocado por mim. NÃO!!! Eu fiz a seguradora pagar o pára-choques do Nissan Qashqai que ficou com um furinho da minha chapa de matricula quando lhe dei um "beijinho". E tornei a fazer gastar quando declarei o toque que dei 4 anos e meio depois. E fiz gastar de novo quando caí na asneira de declarar a amolgadela que me deram, seguindo a informação (que acreditei, PARVA QUE SOU!!!) que como não atingia o plafond segurado anualmente não me prejudicaria... Pois é, prejudicou. E agora sou persona non grata para as seguradoras.
Parece que agora as minhas soluções são; não ter seguro durante pelo menos uns dois anos, vender o carro e conduzir um carro de outra pessoa, ou passar a andar de transportes. Ou isso ou andar ilegalmente num carro sem seguro e como assim, se bater em algum, desde que ninguém me apanhe, não há problema nenhum.
Serve este post para vos alertar. Façam seguros baratos, e se tiverem um acidente que seja em grande (só não desejo que matem alguém porque não sou capaz de tanto... mas já faltou mais...)
Ana Cristina
sexta-feira, outubro 19, 2018
Isto de ser aéreo...
Isto poderia ser para o Martim, de 12 anos, que em pouco menos de uma hora se descreveu a si e a uma amiga, por mais do que uma vez, como "aéreos".
Aéreo é...
Ter uma ideia insistentemente na mente, sonhada ou recordada,
ouvir ser questionada acerca das chaves do carro que, mais de uma hora depois, nos apercebemos ter esquecido em casa, vir para casa a pé de mãos dadas com a ideia, regressar depois ao carro, já com as chaves no bolso, vir a conduzir para casa com a ideia no lugar do pendura, estacionar e andar até casa, meter a mão ao bolso e encontrá-lo aberto e sem as chaves de casa, voltar ao carro olhando com a ideia para os cantos do passeio para ver se encontramos o molho de chaves que nem teremos ouvido cair, vasculhar o carro à procura, tornar a casa desejando que as chaves tenham ficado esquecidas, para depois as encontrar num outro bolso fechado do casaco, a namorar com a nossa ideia...
ouvir ser questionada acerca das chaves do carro que, mais de uma hora depois, nos apercebemos ter esquecido em casa, vir para casa a pé de mãos dadas com a ideia, regressar depois ao carro, já com as chaves no bolso, vir a conduzir para casa com a ideia no lugar do pendura, estacionar e andar até casa, meter a mão ao bolso e encontrá-lo aberto e sem as chaves de casa, voltar ao carro olhando com a ideia para os cantos do passeio para ver se encontramos o molho de chaves que nem teremos ouvido cair, vasculhar o carro à procura, tornar a casa desejando que as chaves tenham ficado esquecidas, para depois as encontrar num outro bolso fechado do casaco, a namorar com a nossa ideia...
e ter a certeza que se continuará a sonhá-la ou recordá-la...
Quem não...?
Rita
quinta-feira, outubro 18, 2018
segunda-feira, outubro 15, 2018
Da doença
Fui ver-te.
Estavas estranhamente parecida com o antes, toda tu mais redondinha, os falsos caracóis perfeitos, tu sentada direita na cama, costas encostadas atrás. Fiquei de boca aberta, falaste comigo, disseste que te sentias melhor mas que era por pouco tempo e que, para além do mais, tinhas muitas dores.
Nem sei bem o que senti... ver-te melhor, conseguir ouvir-te e perceber-te. De tão assoberbada, encostei-me a ti e chorei, de surpresa espantada com o ter-te de volta, mesmo que por período escasso.
Acordei assim, a gemer do choro sonhado. Escasso mesmo. E desperdiçado.
Rita
sábado, julho 07, 2018
Distorção maior
Vivo a vida que tenho com a normalidade ganha no dia-a-dia, nos gestos usuais, nas caras normais, nos mesmos papéis... Raramente penso a fundo nesta realidade distorcida que é aquela em que me movo e que não é, não pode ser, não está e não pode estar nunca ao alcance das pessoas ao meu redor. Isso é o suposto e não me aflige. E a verdade é que não sou atormentada por essa distorção da realidade que não é a minha mas que visito diariamente.
E depois há semanas estranhas. E momentos maus, verdadeiramente maus, daqueles em que a distorção ultrapassa o inimaginável, até para quem se habitua a ter essa fasquia elevada... em que se sabe que, fazendo o melhor e mais que se possa fazer, nunca haverá nada, em lugar nenhum, capaz de compensar a deformação que não era suposta...
Nesses dias, vive-se. E sobrevive-se. De preferência com os filhos, o marido, os amigos, os programas que nos capacitam que há sempre alguém, algures, a dar o máximo por um mundo melhor. Para que não tenhas que lutar sempre contra uma distorção maior.
Rita
sexta-feira, julho 06, 2018
Quatro anos de MISHA
Fez hoje 4 anos que chegou cá a casa. Era uma bebé-gata com cerca de 3 meses, aparentemente grande para a idade. Vinha mais ou menos desconfiada mas adaptou-se bem e num instante adotou-nos como família humana. Continua uma menina-gata linda, de olhos grandes e pêlo comprido. Tão confiante que nunca parece ter medo. Mantém-se reguila mas não tanto como em bebé, e as plantas cá de casa continuam a sofrer os seus ataques. Agora é uma irmã mais velha, daquelas que ajuda nas traquinices mas não é quem dá mais nas vistas, que faz as asneiras mas disfarça bem melhor que o mano.
Não festejámos a entrada dela na família (não deu tempo) mas eu ainda consegui tirar umas fotos da peluda. Aqui está a Misha, numa foto de hoje... e é linda, não é?
Ana Cristina
domingo, junho 10, 2018
Quase que tenho vergonha
É verdade. Quase que tenho vergonha de vir aqui escrever depois de tanto tempo ausente. E se pensam que agora estou virada para outras redes sociais, não estão completamente errados, porque, nos últimos tempos, tenho visitado mesmo que pouco, o facebook e o instagram mais do que tenho vindo aqui. Claro que isso não tem desculpa, até porque este é, ainda, o cantinho onde mais me interessa deixar a minha marca... mas também o que obriga a mais método de dedicação, e por consequência, mais tempo para fazer um post minimamente interessante. E tempo não tem abundado por estes lados.
A juntar ao dia-a-dia de enfermeira, sindicalista, filha de pais mais ou menos dependentes, há uns meses também se juntaram as pesquisas, os trabalhos e estudos, porque estou a fazer uma pós-graduação. E voltei a não ter tempo para os meus pequenos prazeres pessoais. Tenho deixado de parte os meus pequenos desenhos e pinturas, os Xulés estão por fazer, e os livros já se acumulam há muito. Mas tem sido bom voltar aos estudos. É mais ou menos um sentimento agridoce, onde o doce é a aprendizagem e a energia que se ganha com o estimulo do estudo, e o acre é a falta de tempo para todas as outras coisas que gostamos de fazer. E vir aqui ao blog está incluído nessas faltas.
Voltei hoje, sem promessas, e com vontade de aqui aparecer muito mais...
A todas as nossas visitas Olá Olá, cá estou eu... viva!!!
Mostro-vos a pequena parte da estante de livros por ler...
Ana Cristina
sexta-feira, abril 06, 2018
Ida à biblioteca
Fomos inscrever-nos à biblioteca.
Gosto de bibliotecas. Para além de estarem cheias de uma das coisas mais espetaculares do mundo, são representativas de uma ideia filantrópica excecional... quer dizer... quem é que se lembrou de criar um espaço em que a literatura estivesse ao alcance de todos, sem custos, por períodos de tempo mais ou menos alargados... Se pararmos para nos debruçarmos sobre a ideia de algo que já tão comum e adquirido nas nossas vidas, apercebemo-nos do quão verdadeiramente magnífico o conceito é.
A nossa biblioteca não fica muito longe de casa (dá um passeiozito bom) e não é muito grande, mas faz parte da rede BLX, o que significa que podemos dar conta do nosso interesse por um qualquer livro que não exista ali e virá o dito de uma outra da mesma rede. É, portanto, o mesmo que ter ao nosso alcance os livros de quase vinte bibliotecas!!! Podemos requisitar livros e filmes por 15 dias e renovar a sua estadia na nossa casa, através de diversas vias, por idêntico tempo. Também temos acesso aos periódicos que não sejam mais atuais, sendo que fiquei igualmente deliciada com a perspetiva de no próximo mês poder requisitar a National Geographic de Abril...
Inscrever-me nas BLX fez-me recordar dos tempos de escola e do bom que sempre foi ir a bibliotecas... E apesar de ter sido comedida nas escolhas e de ter trazido somente dois livros - tenho ainda novos em casa para ler -, entre mim, a Alice e o Vasco, saímos de lá maravilhados com a ideia de dez novas leituras e quatro filmes para os próximos tempos...
Rita
quinta-feira, abril 05, 2018
sábado, março 31, 2018
Nove anos de Vasco
Em Agosto de 2017, depois de regressar do primeiro campo de férias que fez sem ninguém conhecido, o Vasco respondeu da seguinte forma à pergunta que lhe fiz sobre o que tinha dito, durante uma das atividades feitas por lá, que eram os seus super-poderes:
«-Saber quem sou ao pé dos outros.»
Ficámos a olhar para ele, sem perceber exatamente o que queria dizer, e pedi mais explicações sobre o que significava. Respondeu mais ou menos isto:
«-É assim como saber que o outro é melhor...»
Sou bastante insistente a tentar perceber as coisas e, ao terceiro pedido meu para que explicasse melhor, tentou ir mais além:
«É assim, por exemplo... se eu estiver a jogar um jogo e o outro ganhar, não querer ser como ele. Porque eu gosto de ser como sou.»
O meu rapazinho fez ontem 9 anos e o que mais desejo é que conserve toda esta sapiência.
É difícil descrever tudo o que cabem nestes nove anos: tranquilidade, sensibilidade, perspicácia, inteligência, energia, amizade, companheirismo... Alguém me disse uma vez que achava piada ao Vasco por ser "boa onda" e isso é, efetivamente, verdade. Parece ter nascido com a invejável capacidade de se aceitar e de aceitar os outros como são e, sendo essa uma das características mais difíceis de conquistar ao longo da vida, só posso concluir que deve ser um mocinho de sorte...
Rita
quarta-feira, março 28, 2018
Gosto de posts de desenhos
A Joana gosta de desenhar e todos os dias chega com desenhos novos que fez na escola. Hoje, mesmo com pouco investimento da parte dela, trouxe estes:
À esquerda: «Uma planta e uma porta.»
Em cima, à direita: «Eu... esqueci-me de fazer o cabelo... e sabes o que é isto? São armários.»
Em baixo, à direita: «É uma rockstar [a sério...?! a miúda sabe o que é uma rock star?!] com uma viola assim [e finge que toca]...» [ao que eu pergunto «E isto?», e ela «São as mãos.», e eu «Tantos dedos!», e ela «Pois é...!»]
Rita
sexta-feira, março 23, 2018
Portanto...
... o que fazer a uma filha de quatro anos adoentada e presa em casa há vários dias...?
Pô-la a lavar a louça...!
Rita
quarta-feira, março 21, 2018
A navegar por brincadeiras
Por vezes encontro pessoas que dizem ler este canto, demonstram espanto por achar que faço imensas coisas com os meus miúdos e questionam o meu tempo e a minha paciência...
No entanto, a verdade é que, havendo projetos que são pensados e sonhados por mim durante muito tempo, outros há que nascem precisamente da falta de paciência. Eu explico.
Sempre gostei de brincar com crianças, desde muito cedo, no limiar em que deixei formalmente de ser uma deles. Mas recordo que por vezes não me apetecia as brincadeiras com bonecas e propunha coisas mais espalhafatosas. Os jogos de circo, por exemplo, em que eu lhes pegava, fazia rodopiar, inventava mil e uma cambalhotas e cabriolices - ainda hoje um sucesso, devo dizer...
Atualmente, com os meus filhos, isso continua a acontecer. O último foi um caso desses, de deslize de atividades, por assim dizer...
Joana adoentada. Não muito mal, só uma febre baixa a teimar aparecer todos os dias. As duas em casa. Uns bonequinhos de borracha que vêm numas embalagens pequenas, uma espécie de personagens de diferentes características que são zombies. A Joana a querer que eu brincasse com ela e com os ditos, vezes seguidas. À segunda, eu já farta dos mortinhos-vivos de borracha e àquelas brincadeiras nonsense a que os miúdos de quatro anos acham piada.
E foi assim que surgiu a proposta. Fazer um barco com caixas de ovos. Ao que se acrescentou uma baleia azul sorridente.
O processo correu todo muito bem, apesar do resultado ainda não ter proporcionado tantas brincadeiras como eu gostaria. Ela empenhou-se e gostou. Os mais velhos, em particular o Vasco, também aprovaram o objeto final.
Foi totalmente copiado de ideias a circular pela net. Não está mal, mas fica a ideia de melhoramento para um próximo barco.
Rita
sábado, março 17, 2018
Este tipo de sms
SMS de filha de 12 anos para a sua mãe, sobre um bolo que esta se encontrava a fazer:
«Tá então... tipo tmb quero ajudar a decorar»
Resposta da sua mãe:
«Tipo, não te preocupes. Ainda há muito para fazer, tipo, até lá. Tipo.»
«Tá então... tipo tmb quero ajudar a decorar»
Resposta da sua mãe:
«Tipo, não te preocupes. Ainda há muito para fazer, tipo, até lá. Tipo.»
Rita
segunda-feira, março 12, 2018
Rabiscos...
O tempo não dá para fazer tudo o que se quer e alguma coisa fica para trás. Tem sido este blogue, as peças das oficinas, os rabiscos e pinturas, as pinturas, as leituras... Persegue-me a sensação que estou em falta. Em falta sobretudo para quem gosto e gosta de mim, porque para eles também falta tempo. Mas de repente enterra-se a cabeça no sofá e ignora-se tudo o que está pendente e pega-se no caderno e nos lápis de cor. Tenta-se captar a energia dos modelos que aqui andam em forma de desenho e sai qualquer coisa mais ou menos agradável.
O Cobi e a Misha em rabisco. Já tinha saudades...
Ana Cristina
terça-feira, março 06, 2018
Por oposição a...
O rapazinho, Vasco de seu nome, chega a casa de uma amiga, para um fim de tarde de brincadeira. Encontra-a descontraída e atentamente no sofá, a ver o "Titanic". Quase no fim, o barco já meio naufragado. Ele senta-se logo, de casaco ainda, imediatamente envolvido pela cena. E diz:
- Agora é aquela parte em que as pessoas vão morrer de uma forma desagradável...
Rita
sexta-feira, março 02, 2018
segunda-feira, fevereiro 26, 2018
De Miss Goffre, com 04 anos
- Mãe, conheces esta música: tãã-tã-tã-tã...?
- Hum, não estou a ver...
- Tãã-tã-tã-tã... É do Star Wars.
- Ah... é?
- Sim... Do Star Wars. O Daniel é que sabe bem. Eu não sei. A minha língua é melhor... é melhor francês.
Nota: "Star Wars"?! "Francês"?! ?! ?! ?!
Rita
quarta-feira, fevereiro 21, 2018
Os Xulés voltaram a este blog
Aqui se conta a ainda curta história de dois Xulés que seguiram no Natal para novas casas. Tal como todos os outros foram feitos à mão, com muito carinho e enchimento sintético anti-alérgico. Desta vez não tiveram botões por motivos de segurança.
Eram amigos desde a altura em que eram apenas projecto. Tinham tanto em comum... foram concebidos para gente pequenina, tiveram direito a ter cara pintada, coração musical e só têm pernas. No tempo que estiveram à espera de seguir para novas paragens passaram pelo crivo avaliador do júri dos Xulés, onde crianças e adultos avaliam tanto a aparência como a funcionalidade e a originalidade. Acabaram por concluir que até nas fotografias ficavam bem juntos mas souberam desde sempre que as suas vidas iriam seguir rumos diferentes.
Do saco xulezudo saíram com a mesma vontade, alegrar os miúdos que os esperavam... E o que nos chegou foi que, tanto um como o outro, foram recebidos com entusiasmo pelos seus novos companheiros, a Ema e o Gustavo.
Por cá ficamos contentes, e desejamos aos Xulés sessenta-e-oito e setenta longas e alegres vidas.
domingo, fevereiro 18, 2018
Experiências em casas diferentes, que aos poucos também vão sendo nossas
A primeira e única vez que me lembro de ter ido a um Lar, devia ter os meus nove ou dez anos. Era em Salvaterra de Magos, tinha um papagaio, e à volta havia muito campo, por onde eu e a minha prima Sónia nos fartámos de correr e brincar. Tínhamos ido ver a minha tia-avó Emília.
E foi isso. De resto, todos os meus avós estavam longe, em Viana, e a sua partida, quer tenha sido mais ou menos de repente ou de forma arrastada no tempo, foi acompanhada por mim de forma um tanto ou quanto distante. Vi-os envelhecer, mas aos pouquinhos, e com a perspetiva de quem sempre os tinha achado velhos, mas não os vi com o raciocínio meio desmantelado e não pude acompanhar de perto o acabar dependente da doença.
Acompanho este definhar da minha mãe e percebo que toda a noção de velhice para os meus filhos será diferente. Há cinco meses que rumam semanalmente para o Lar onde se tornou inevitável colocá-la e, ali, à sua volta, vão criando os seus conceitos de velhice.
Há tardes em que pouco estão com a avó. Correm lá fora, no pátio circundante, jogam à bola e às escondidas. Não me faz mossa, quero mesmo é que eles gostem de lá ir. Há tardes em que brincam no quarto, descalços, usando a cama da vizinha da avó, que nunca está e que nos garantiram que não se importaria. Sei que correm por lá de forma cada vez mais conhecedora, vão buscar rebuçados ao escritório das proprietárias e falam mais alto do que provavelmente deveriam.
Não sei se lhes faz confusão os olhares vazios de alguns idosos, ou a quietude, ou o deambular de outros. Quase não comentam o ambiente, e aceitam-no com naturalidade, mesmo nos dias em que dão entrada senhores com demência, perdidos no tempo, zangados com o mundo. Espantam-se primeiro, riem-se depois, meio à socapa. No outro dia, a uma senhora angustiada e aflita, a chamar incessantemente pelo filho e a dizer que tinha ali ido «ao engano», a Joana fez uma festinha, na mão... (Eu morri de orgulho, com a capacidade de empatia...)
E depois, há momentos que são pérolas e que eu espero - espero tanto! - que lhes fiquem marcados naquela assoalhada que guardamos no cérebro para as lembranças única e exclusivamente boas. Como o de ontem, em que as miúdas brincavam sentadas a uma mesa, com bonecos de lego, e chegou a D. Idalina, amorosa, e meteu conversa, contou histórias antigas, sentou-se. E eu ouvia as duas a responder-lhe. 12, 04 e 94 anos. Uma bela conversa.
Rita
quarta-feira, janeiro 31, 2018
Post para quem sabe quem
Não sei quando é que as coisas se tornaram assim.
Calculo que um dia saímos dos pais e fomos brincar às casinhas. E arranjámos companhia e depois mais companhia. Brincámos muito. À organização de jantares de família, de festas de aniversário... Natais...!
Fomos brincando às casinhas e às famílias, de tal forma bem, que nem nos apercebemos. Éramos as mesmas de sempre, mas um dia, sem aviso, passámos a ser quem controla medicações, quem acompanha consultas, quem leva à casa-de-banho. Somos só umas miúdas e deixámos de ser cuidadas para ser cuidadoras e dali para sermos cuidadores de quem cuidava.
Caramba, que nos andam a tirar o chão... Pode ser um tirar devagarinho, de tal forma que quando dermos por nós já só vamos andar no arame. Pode ser uma substituição do chão por rede, de tal forma que a cada passo parece que perdemos uma parte de nós mesmas. E pode ser um tirar de repente, sem aviso.
Porcaria para isto, que ninguém avisa que pode ser assim tão rápido.
Rita
segunda-feira, janeiro 29, 2018
Novidade do mês de Janeiro de 2018
Neste mês de Janeiro de 2018, a grande novidade tornou-se a quantidade de livros a que se dedicou... Adorou o "Tom Gates" que a Tia Cristina lhe ofereceu e devorou-o num ápice. Depois, como não conseguia o segundo número à velocidade do seu apetite, atirou-se aos "Diário de um Banana" que havia nesta casa e na do amigo e vizinho João.
Foi uma descoberta magnífica. Passou a ser encontrado na companhia do Banana a qualquer momento, até às escuras... De forma que, um mês volvido o Natal, começou hoje o seu décimo primeiro livro... Acho que nem sequestrando o Jeff Kinney e obrigando-o a trabalhar em exclusividade numa qualquer cave sem janelas e focos de distração, conseguiríamos dar conta desta avidez...!
Rita
sábado, janeiro 27, 2018
Desenho de Miss Goffre
Segundo a Joana, de 04 anos, algo como: "Um tiranossauros-rex a atacar outro dinossauro, com ovos e dinossauros pequenos a sair dos ovos."
Rita
domingo, janeiro 21, 2018
Des... comunicação...
Ontem meti na cabeça que íamos almoçar fora. Só os cinco. Foi algo inesperado e talvez decidido por de repente me recordar da minha mãe, tantos anos a dizer que não dispensava ir almoçar fora uma vez por semana, custasse o que custasse... Claro que a minha mãe deu aulas de tarde durante todos os anos de que me lembro, razão pela qual a sua vida profissional não implicava almoçar fora. O mesmo não acontece connosco, daí a desvalorização da possibilidade.
Mas assim foi. Comuniquei que íamos. E fomos. Eu pretendia os crepes ainda não experimentados no Largo, mas estava cheio e acabámos na Hamburgueria no Talho, que faz sempre as delícias dos miúdos.
A Joana e a Alice levavam um saco com Barbies, o Vasco um livro. De qualquer forma, entretivemo-nos essencialmente a conversar. Sobre o jogo de futsal que a equipa do rapazola tinha ganho, os livros que a Alice tinha lido, as patacoadas da Joana.
Atrás de nós, uma outra família - presumo. Pai, mãe, filho adolescente. Auscultadores. E telemóvel. Ou consola, não cheguei a dar atenção o suficiente para perceber.
Tenho ideia que, num passado algures, eu e a minha irmã... ou eu e o M... reparávamos nos casais que permaneciam silenciosos nas mesas, durante toda a refeição. Imaginávamos como seria a sua vida, se num almoço ou jantar fora, nada havia para conversar.
Fazia-me impressão antes e continua a fazer. O filho, durante todos aqueles minutos, a jogar (ou assim pareceu), os pais durante todos aqueles minutos, em silêncio. Um quase absoluto silêncio durante toda uma refeição, incluindo o tempo prévio e os momentos pós.
É algo que mete medo. Um dia, olharmos para aquele com quem dividimos mesa há anos, e não sobrar nada para dizer. Um dia, ter um filho à frente e não haver nada para partilhar, uma curiosidade sequer. Medo.
Mas, por outro lado... não seria melhor colocar telemóvel ou consola de parte, forçar o contacto olhos nos olhos, treinar a comunicação de parte a parte, o contacto... até o interesse...?
(* retirada de um qualquer sítio pela net)
Rita
sexta-feira, janeiro 19, 2018
A minha agenda é única
Com a preparação do novo ano quase todos procuram o objecto que os irá acompanhar diariamente, a agenda. Actualmente há-as para todos os gostos; pequenas, médias ou grandes, com mais ou menos bonequinhos, espaço para escrever ou listas seja do que for.
A minha agenda é só minha e personalizada. Um caderno novo que vai sendo preenchido a meu gosto e onde entra tudo o que me vai surgindo.
Depois de vários anos a construir a minha própria agenda, porque apesar de ter feito várias tentativas, nenhuma das já programadas me agrada completamente, tenho seguido o conceito de adaptar a agenda ao que mais me interessa e que entretanto descobri chamar-se de "Bullet Journal".
O Bullet Journal é definido por um sistema analógico de organização tipo diário por tópicos. Parece haver umas sugestões de como organizar um bullet journal, havendo até um sistema de símbolos e podem encontrar-se várias imagens nas redes sociais, algumas bem bonitas, de cadernos seguindo este conceito.
A minha agenda não segue especialmente nenhum conceito, só o que fui criando ao longo dos últimos, talvez, 10-12 anos. Todos os anos faço ajustes de acordo com a experiência, retirando ou acrescentando pontos de organização e de interesse.
Escolho um caderno que me agrade e faço um planeamento básico. Para mim é importante ter uma visão anual, folha de contactos básicos e (nesta fase) notas importantes relacionadas com a saúde dos pais. Depois a agenda vai sendo construída, no meu caso com uma folha de visão mensal e vários desenhos e quadros de chamadas de atenção ou de resumos.
Este ano tive de abdicar do caderno de desenho com argolas tamanho A6 que usei vários anos e me agradava especialmente da Winson & Newton porque não encontrei à venda (será que saiu do mercado???). Depois do desespero do momento acabei por comprar um caderno lindo, de capa dura com elástico, tamanho A5 (+) da Talens.
Não gosto de cadernos quadriculados nem pautados para a minha agenda e tenho optado por folhas lisas mas um dia ainda irei experimentar o tipo pontilhado, que me parece ser interessante para o que me interessa. Não sei se interfere nos desenhos que vou fazendo mas de certeza que facilita a realização de quadros e organização da folha. Fica para outra altura. Por agora a minha agenda é a que vos mostro, vermelha e ainda com quase todas as folhas por preencher... e eu adoro cadernos novos.
Na imagem estão as duas agendas a do ano passado e a deste ano.
Ana Cristina
segunda-feira, janeiro 15, 2018
sexta-feira, janeiro 12, 2018
Novo ano, as mesmas vidas, as mesmas resoluções
Porque é o início de um novo ano fazem-se, outra vez, balanços e projectos.
E o ano de 2017 foi em vários aspectos, muito diferente. Difícil porque a doença rondou as nossas vidas. A doença da A, uma amiga muito querida, que teve mais um round na luta que é a da vida dela. A doença da mãe, que agravou francamente estando a perder-se progressivamente, física e (quem sabe) mentalmente. Tem sido muito duro para nós, filhas, mas para o nosso pai é um abalo sísmico na sua estrutura, que também ela se encontra cada vez mais frágil. Para ela, até dói imaginar o que será sobreviver impedida de viver, quanto mais assistir impotente ao progresso da doença de uma pessoa de amamos.
Mas foi um ano que também nos trouxe a alegria de ver as crianças crescer, e mais uma vez constactar que é verdade, as crianças fazem mesmo o nosso mundo ficar mais colorido e não nos deixam entrar na fase de auto-comiseração.
Da minha parte, recordo o ano passado com uma mistura de sensações. Durante alguns meses consegui explorar um pouco o desenho e experimentar um bocadinho os lápis aquareláveis mas as tristezas que rodearam e correrias do dia-a-dia impediram-me de o fazer tanto como gostaria. Também foi um ano de lutas profissionais, algumas delas terão reflexos este ano, com muito tempo de atraso a bem dizer. Em resumo, 2017 foi mesmo um ano marcante e adivinha-se que este também o será, familiar e pessoalmente...
Importa também relembrar a nossa colaboração como profissionais no blog "O Pai, a Mãe e Eu", um espaço na blogosfera muito dinâmico que vai fazer agora um ano, e que pretende ajudar numa parentalidade saudável. Foi com orgulho que aceitámos o desafio de colaborar com as suas autoras e vamos, de certeza continuar com esta parceria.
Este blog reflectiu em parte essas mudanças nas nossas vidas, com mais posts no início do ano acerca das nossas pequenas criações e momentos das nossas vidas e um fim do ano muito mais ausente deste espaço. Apesar destas fases mais ou menos atribuladas neste blog continua a valer a pena manter este espaço que é o nosso, das manas RANHA, por vezes Oficinas.
E por falar em Oficinas RANHA... temos de mostrar aqui as nossas criações que seguiram em forma de presentes de Natal no mês passado...
E já agora, acho que ainda não vos desejei Bom Ano Novo.
Ana Cristina
quarta-feira, janeiro 10, 2018
Touros e espermatozóides
Portanto, fomos há uns dias ver o "Ferdinando" e tivemos uma conversa sobre as touradas e os touros.
Por sua vez, hoje, a propósito de qualquer coisa que passava na televisão, tive de explicar-lhe o que eram "bebés proveta", com exemplo.
E, sendo assim, qual o resultado da junção destas duas conversas na cabeça do meu filho de 08 anos?
"Os espermatozóides são como os touros. Nascem para morrer.»
Rita
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