Às vezes é assim.
Chegamos a casa num dos raros dias sem atividades e o jantar já está feito. O pai não vai às compras, a mais velha tem estudo para fazer, os outros dois preparam-se para um fim de tarde televisivo. Afastada dos restantes, acabo de colar as fotografias de um trabalho da Joana no seu caderno da creche.
Talvez por eu própria não estar hipnotizada sob o olhar da caixa mágica, lembro: «Vasco, vou desafiar-te para um jogo.»
Ele não me liga logo. Vou buscar o jogo, um puzzle de 200 peças, e espalho-as pela mesa. Torno a chamá-lo. Ele vem, observa, solta uma interjeição de espanto por o jogo ser um puzzle. Não percebo se está satisfeito, desiludido ou surpreso. Ainda vai até à sala. Começo a virar as peças todas para o mesmo lado, a separar as que têm bordo. Torno a espicaçá-lo. Chega ao fim o tempo determinado para a caixa hipnotizadora e a televisão é desligada. E começa a magia.
Duzentas peças de magia. Uma mãe que desafia um filho. Um filho que se senta. Um pai que se aproxima, curioso e começa a procurar peças. Uma filha que no fim do estudo também quer participar. A outra que traz outro jogo para cima da mesa.
Uma hora e pouco de magia. E de boa disposição. E de querer estar ali e em mais lado nenhum. Com sucesso.
Mas às vezes é mesmo preciso desligar a caixa. E ajuda ter o jantar feito.
Rita
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