São engraçadas as reações quando se conta que se espera um terceiro filho.
Há o grupo grande - talvez não tão grande, mas grande para nós, porque é o nosso grupo, a família, alguém lhe chamou há poucos dias "a nossa comunidade" - que se abre num sorriso de felicidade pelo aumento do "nós".
Há aqueles em menor número, que revelam um pouco de inveja da nossa novidade.
Há um grupo de incrédulos, que diz que somos doidos.
Outro, também de espanto, que nos qualifica de corajosos.
E penso que talvez outro pequeno, com apenas espanto pela decisão e talvez a fazer interiormente contas à vida, à nossa, entenda-se.
Vivemos tempos menos fáceis, é verdade. Cá em casa há dois funcionários públicos, por isso são escusadas palavras (espero).
Será por isso que se fala em coragem...? É preciso ter coragem para ter filhos? Ou apenas para ter mais um filho, tendo em conta os tempos que correm? Ou é por nos aventurarmos nos três?
Acho que é bom poder ter, claro. Mas o essencial é querer ter, não? Essas deverão ser sempre as duas ideias subjacentes ao desejo de ter um filho: querer e poder. A disponibilidade, o tempo, isso vem por acréscimo da motivação. Até a facilidade... é estranho, mas, havendo coisas em que ter mais um dificulta, em outras só facilita. Tornamo-nos obrigatoriamente menos preguiçosos, menos picuinhas, mais pacientes, mais ágeis... até, penso eu, mais novos...
Hoje, a Ana contava as dificuldades de pôr o único filho na cama, adormecê-lo durante uma hora e meia, ao colo, em absoluto silêncio. Perguntava como conseguiamos nós, as amigas, ter hobbies, costurar, cozinhar, quando tinhamos dois. A resposta tem a sua simplicidade. Há coisas que não se conseguem com dois. Não dá. O segundo não permite. Por isso, nem sequer se pode ou se pensa nisso, há automaticamente que explorar outras soluções. E, estranhamente, ganha-se, fica-se com mais tempo, mais capacidades na resolução de situações, mais sentido prático, mais pragmatismo.
Claro que nas rotinas diárias, ter mais um não ajuda. Agora, que temos estado uns dias cá por casa sem filhos, acordamos mais tarde, comemos qualquer coisa. Mas, ao mesmo tempo, quando estão cá, também os obrigamos a uma maior independência, autonomia.
Claro que tudo isto são pensamentos. Os meus. De quem espera mais um. E anseia por ele, signifique o que significar. Mais trabalho?! Quero lá saber... Nem sei se sou corajosa... sou, neste momento, só mais feliz...
Rita