segunda-feira, novembro 26, 2018

Avó e neta

Estava a vestir um casaco de malha às riscas e a congratular-me por ainda lhe servir, quando a ouço:
- Não gosto deste casaco.
Fiquei surpreendida e fiz o que faço sempre, converso sobre o assunto, tentando convencê-la:
- Não gostas? A sério?! É tão lindo, tão colorido... Era do mano, sabes, foi a avó que lhe ofereceu quando ele era pequeno.
Instantaneamente, ela torna a vestir o que do casaco já começara a despir:
- Ah, então gosto. 
Foi uma mudança tão rápida numa pessoinha tão tendencialmente assertiva (e oposicionista...!) nestas coisas, que eu até estranhei. Até que a ouço:
- Sabes porquê...? Porque eu gosto muito da avó, ela é muito querida...

Diga-se, para quem precisa, que quando ela nasceu, há quase cinco anos, já a avó estava doente. Enquanto bebé, sempre lhe pegou ao colo sentada, para que não se arriscasse mais uma queda inexplicável e de surpresa, naquela altura a serem cada vez mais habituais... Não me recordo de terem conversado muito as duas, porque a avó falava cada vez menos e mais baixo e as crianças pequenas não são conhecidas pela paciência... e é impossível que, com a idade que tem, ela se vá recordar de muito mais do que aquela avó, no Lar, que quase não se mexe, sem expressão, a quem ela dá um beijinho, faz umas festas na cara ou segura na mão. Ou aproveita o quarto e a cama para brincar e jogar, segundo as minhas tentativas de que a avó lhe vá apreendendo o feitio, o crescimento, desta forma tão básica que atualmente lhe é permitido... O célebre "melhor que nada"... 
Fico enternecida com as palavras dela... agradável e ao mesmo tempo tristemente enternecida... mas sorrio de mim para comigo... não é um riso fácil e descontraído como daquela vez em que, no Lar, depois de aconchegarmos as almofadas e roupa de cama à volta da minha mãe, a vejo entrelaçar os dedos das mãos uns nos outros e dizer: «Oh, tão querida... Parece um animalzinho do bosque...!»... mas é, em todo o caso, um sorriso.



Rita

segunda-feira, novembro 19, 2018

Há lá coisa melhor do que elogios numa segunda-feira de manhã...

São 10H15 de segunda-feira e recebo um telefonema de trabalho, aqui no trabalho. 
Ele quer saber da situação da sua ainda incipiente adolescente e eu explico-lhe. 
Pergunta-me se há necessidade de me tornar a ligar e eu digo que o poderá fazer, se assim quiser, mas que à partida já sabe o que esperar. 
E ele vai e diz que ligará antes do Natal, mesmo que seja para me desejar boas festas. 
E desfaz-se em elogios, de entre os quais o que eu mais gostei: «A Rita acalma qualquer um.» 
Eu. Logo eu, que na altura até ralhei com ele. Acalmo gente. Rio-me para dentro com a diferença do que podemos ser em diversas áreas da nossa vida. 
E agradeceu muito. E eu sei, porque o ouvi mas também porque o senti, que foi mesmo real. Que, mesmo tendo em conta o meu aparecimento numa fase necessariamente desagradável de vida e acontecimentos, houve um espaço para sentir que eu tinha reduzido o que foi negativo... 

Vim aqui só para não me esquecer que, não obstante o dia cinzento que se vê pela janela nas minhas costas, aqui dentro de mim, o dia está solarengo e anuncia uma boa semana. Com licença, vou então trabalhar com ganas. 
Rita

domingo, novembro 11, 2018

Coisas que acontecem...

... quando se sai a correr, em cima da hora do cinema:


E sim, só reparei quando estava a sair do carro, já no centro comercial... E sim, fui mesmo assim. 

Para salvaguarda de quem se possa estar a preocupar com a minha sanidade mental, devo acrescentar que o quarto em que me calcei estava às escuras. 

Rita

segunda-feira, novembro 05, 2018

Que fixe nunca estar sozinho...

E disse ela, a de quatro, vestida de cuecas, camisola interior, meias antiderrapantes e gorro de Inverno na cabeça:
«-Mãe...... anda cá ver-me a dançar com estas duas miúdas...»




💗

Rita