Ontem meti na cabeça que íamos almoçar fora. Só os cinco. Foi algo inesperado e talvez decidido por de repente me recordar da minha mãe, tantos anos a dizer que não dispensava ir almoçar fora uma vez por semana, custasse o que custasse... Claro que a minha mãe deu aulas de tarde durante todos os anos de que me lembro, razão pela qual a sua vida profissional não implicava almoçar fora. O mesmo não acontece connosco, daí a desvalorização da possibilidade.
Mas assim foi. Comuniquei que íamos. E fomos. Eu pretendia os crepes ainda não experimentados no Largo, mas estava cheio e acabámos na Hamburgueria no Talho, que faz sempre as delícias dos miúdos.
A Joana e a Alice levavam um saco com Barbies, o Vasco um livro. De qualquer forma, entretivemo-nos essencialmente a conversar. Sobre o jogo de futsal que a equipa do rapazola tinha ganho, os livros que a Alice tinha lido, as patacoadas da Joana.
Atrás de nós, uma outra família - presumo. Pai, mãe, filho adolescente. Auscultadores. E telemóvel. Ou consola, não cheguei a dar atenção o suficiente para perceber.
Tenho ideia que, num passado algures, eu e a minha irmã... ou eu e o M... reparávamos nos casais que permaneciam silenciosos nas mesas, durante toda a refeição. Imaginávamos como seria a sua vida, se num almoço ou jantar fora, nada havia para conversar.
Fazia-me impressão antes e continua a fazer. O filho, durante todos aqueles minutos, a jogar (ou assim pareceu), os pais durante todos aqueles minutos, em silêncio. Um quase absoluto silêncio durante toda uma refeição, incluindo o tempo prévio e os momentos pós.
É algo que mete medo. Um dia, olharmos para aquele com quem dividimos mesa há anos, e não sobrar nada para dizer. Um dia, ter um filho à frente e não haver nada para partilhar, uma curiosidade sequer. Medo.
Mas, por outro lado... não seria melhor colocar telemóvel ou consola de parte, forçar o contacto olhos nos olhos, treinar a comunicação de parte a parte, o contacto... até o interesse...?
(* retirada de um qualquer sítio pela net)
Rita