A pequena andava há muito tempo a perguntar quando é que vinha pra casa "da tia". A grande por vontade dela já tinha vindo, nem que fosse para passar uns dias sozinha se o meu horário não colaborasse. O rapazote não pode vir porque tinha a agenda ocupada com acampamento e diversão por outras bandas. Pelo meu lado, estava mesmo necessitada de uns dias só de brincadeira, daquele cansaço que dá energia.
E assim, tiraram-se uns dias quase só entre miúdas (o tio não contou, esteve a trabalhar). Foram só 3 dias e meio mas pareceram umas pequenas férias e, apesar da Joana não estar no seu melhor (uma virose, com certeza), foram muito bons. Cumpriram-se as rotinas que se tornam clássicas da casa dos tios, como cantar e dançar no hall de entrada (de preferência com a tia a gravar), fazer pilhas de almofadas e mantas na sala, deixar a tia dormir de manhã, comer em frente à televisão, ver pelo menos dois filmes dos que estão gravados na box e que eles já conhecem, experimentar novos exercícios (desta vez de desafios de ioga vistos rapidamente no youtube e repetidos ainda mais depressa, imaginem), brincar ao monstro das cócegas e tirar montes de fotografias. Ainda se tiraram uns curtos períodos para ir brincar no parque e passear no centro comercial, fazer umas comprinhas e comer fast-food.
Mas claro que também se teve um tempinho para alargar as vivências, quem sabe a ser repetidas numa próxima visita.
Desenhar e escrever uma carta ao mano, numa experiência que se torna cada vez mais rara, mas que é sempre interessante. Mandámos dois desenhos com pequenos escritos, beijinhos e corações.
Usando lençóis, mantas e imaginação, desta vez montamos tendas na sala; a maior por debaixo da mesa e a pequena com um pequeno estendal. Estas tendas foram bem aproveitadas, quer pela Alice quer pelos gatos da casa que as viram como mais um desafio, e por vontade da Alice teriam servido para acampar dentro de casa mas a Joana não aprovou. Claro que os de quatro-patas não necessitaram de chegar a acordo com mais ninguém a fizeram das tendas seus refúgios.
Fizemos tratamento de beleza, com direito a fazer massagens umas às outras, pintura de pequenas madeixas azuis no cabelo da loura (das que saem com a lavagem, claro), manicura e pedicura com verniz cor-de-rosa à pequena, verniz com brilhantes e estrelinhas à pré-adolescente e verniz transparente à tia que, pela primeira vez em muitos anos se vê com as unhas das mãos pintadas (de forma muito discreta) e até acha graça.
Eu adoro vê-las interagir. Aquela relação de dependência da mais nova, aquela cedência e protecção da mais velha misturada com fases de isolamento e irritação pelas criancices. Cada uma a usar as suas armas de sedução, as duas a fazer pequenos ajustes, as duas a reclamar mas a adorar brincar uma com a outra.
São quase como eu e a Rita; uma loira, outra morena, com cerca de oito anos de diferença. A desenvolver uma relação que tenho esperança se venha a tornar tão forte como a nossa.
Foram-se embora no outro dia, com a declaração de terem gostado. Cá por casa ficou tudo desarrumado; lençóis em cima da mesa, almofadas no chão, a cama por fazer... e eu cheia de saudades e a estudar a agenda para programar novo período, o que vai ser difícil, pra variar.
Ana Cristina