... e sei que é porque não tenho filhos.
Também sei que é porque em casa dos pais não se comemorava o dia da mãe além do beijinho e das iniciativas pessoais que poderíamos ter, fazendo pequenos presentes ou dedicando poemas e papelinhos com mensagens de amor. O mesmo posso dizer para o dia do pai ou o dia da criança. Eram dias que não faziam parte do nosso calendário familiar.
Agora mais recentemente, porque a Rita é mãe, porque os dias para os meus pais são mais iguais e todos os dias são bons para arranjar motivos para ir comemorando a vida, o dia da mãe também é lembrado. E não é que sinta qualquer tipo de ciúme pela minha irmã (quem me conhece sabe que eu sou uma tia muitissimo babada dos meus sobrinhos - e tenho mais seis além dos três da Rita - tanto que conto as peripécias deles com tanta frequência e mostro fotos que quem me ouvir, no início é capaz de pensar que são meus filhos) mas posso dizer tenho pena. Claro que também eu gostava de receber mimos em dias especiais, mas tenho pena sobretudo por não ser o colinho especial que só se pede à mãe...
Mas pensar no dia da mãe, para mim é também pensar no quanto somos bombardeadas com temas alusivos à maternidade como um estado de completa felicidade.
Acho que posso falar por todas as mulheres que gostavam de ter sido, ou gostariam de vir a ser mães, quando afirmo que toda aquela publicidade ao maravilhoso que é ser-se mãe, à descoberta de um amor incondicional, ou à plenitude da felicidade com a maternidade, quando digo que estes argumentos são demasiado redutores para a própria mulher. Primeiro porque não são verdades. Nem todas as mulheres são felizes com a sua maternidade e podem não sentir amor incondicional pelos seus filhos, e provavelmente sentem-se em algum momento culpadas por não serem sempre felizes. Segundo porque para se ser mãe é preciso ter filhos, e nem sempre a vida é facilitadora nesse aspecto. Tanto a umas, como a outras, os meus parabéns por aguentarem mais um dia da mãe.
Não quero de forma nenhuma menosprezar os sentimentos dos outros mas pergunto se as pessoas que fazem a apologia da felicidade associada à maternidade não estão muitas vezes a ser hipócritas com elas próprias. E se assim não for, se essas mesmas pessoas teriam a capacidade de ser felizes se estivessem, por exemplo, na minha situação de não mãe.
A felicidade pessoal não pode passar "apenas" pela maternidade, com não pode passar pelo "casamento", ou pelo "curso"... A felicidade tem de ser um sentimento de procura interna que passa por nós próprios, e apenas por nós. Temos de conquistar a nossa felicidade por simplesmente sermos capazes de ficar felizes, nem que seja pela felicidade dos outros.
E depois desta teorização toda... Parabéns a todas as mães. Às que estão felizes. Às que são o colinho tranquilizador. Às que merecem esse colinho.
Ana Cristina
Sem comentários:
Enviar um comentário