Foi há muitos anos, já nem sei quantos, que conheci a Júlia.
Estava institucionalizada porque quem teria a máxima responsabilidade de tratar
dela não o tinha feito. Foi aí que conheceu aqueles que, independentemente de
já terem filhos criados, decidiram levá-la para a sua casa e para as suas
vidas. Depois, fizeram o mesmo com a sua irmã, a Teresa.
Na altura conheci-os a todos. E, nestes anos, sabendo bem
que nunca mais nenhum deles terá pensado em mim, eu recordei-os muitas vezes. À
vontade de recomeçar da Júlia. À desconfiança da irmã. À capacidade de se
entregar a duas pré-adolescentes de um casal já com filhos formados.
Hoje regressei à instituição. E, no meio de tantos outros
assuntos e dramas, perguntei por elas. Contaram-me, com agrado. Como a Júlia se
tinha formado. Como a irmã estava bem e casada. Como o casal mantinha a sua
relação familiar e de apoio às duas.
E eu, que nunca consigo acompanhar o futuro dos que passam
por mim, hoje tive a imensa sorte de obter um vislumbre do que foi um bom
recomeço. E, de mim para mim, fiquei de coração cheio de sabê-las bem, como mereciam. Só me resta esperar que, mentalmente, lhes
tenha chegado o meu abraço e sopro: boa sorte, Júlia, boa sorte, Teresa...
Rita
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