Ser uma terceira filha tem sempre pontos negativos... talvez, essencialmente, o facto de nunca se ter, dos outros, nomeadamente dos pais, a disponibilidade completa...
Recrimino-me sempre por não ler todos os dias para a Joana como lia para a Alice e para o Vasco. O hábito foi diminuindo de filho para filho, numa dinâmica inversamente proporcional ao cansaço e afazeres. No início do ano letivo passado, em fase de reformulação de planos e projetos, surgiu a ideia de pôr todas as noites a Alice a ler para ela, enquanto o Vasco treinaria a leitura comigo, num processo conjunto. O problema é que depois começam os treinos e atividades, os fins de tarde a correr com um para o futsal, com outro para a ginástica, e o dia que é de trampolim, o outro que é de xadrez, aquele em que o pai dá treinos, aqueloutro em que a mãe tem expressão dramática... o que, do par de adultos, fica em casa tem de escolher roupas para o dia seguinte, preparar o jantar, aprontar tudo para quando o resto da família chega... infelizmente a leitura fica sempre para demasiado tarde...
Até que chegam as férias...
as atividades cessam,
a respiração abranda...
Tenho feito um esforço para lhe ler, todas as noites. Talvez como forma de compensação, leio duas ou três histórias antes do dormir. É bom constatar-lhe a evolução na concentração com que acompanha... Contudo, tenho que reconhecer que o melhor momento é quando, chegada ao fim a minha leitura, começa a dela. Quer sempre contar a história, num hábito que não me recordo de os outros gostarem tanto, e é nesse momento que lhe vejo... as partes que fixou, as que preferiu, as que repete, as que esquece, as que não entendeu...
Claro que espero que o próximo ano letivo traga um pouco de maior organização e tempo para as minhas leituras. Mas interiormente, o que espero é mesmo que haja tempo para a ouvir a ela e que continue sempre a gostar de recontar o que ouvir...
Rita
Sem comentários:
Enviar um comentário